Peço licença, pois de tanto divagar em minhas lembranças, como a varrer os cantos da memória, fatos e recordações surgem e fogem ao meu controle.
E muito emocionou essa pequena passagem. Espero ser compreendido a tentar transmitir algo assim. Peço ajuda.
E foi quase desse jeito:
Pequeno Herói
Hoje me recordo com saudades da pequena casinha de madeira, sem pintura, sem cortinas, sem tapetes. Morada simples construída nos fundos de um terreno, muito próximo da minha casa lá em Santa Maria. Sem janela ou porta que abrisse para a rua, sempre ao sair ou chegar, era o caminho dos carros de uma grande garagem que sua família cruzava até conseguir alcançar seu pequeno lar. Nenhum luxo, poucos recursos, muito sacrifício, mas muita união entre eles. Assim morava meu pequeno herói com seu pai, sua mãe e sua pequena irmã. Família feliz e apaixonada, dava valor ao pouco que tinha e mirava com esperança o futuro, que um dia muito mais lhes traria.Faziam de suas dificuldades lições de onde tiravam os ensinamentos para enfrentar as durezas que a vida sempre lhes reservava. E não eram poucas, pois dependentes do pai, algumas vezes nada chegava a sua mesa quando emprego e oportunidade escasseava. Se faltava trabalho, não faltava esperança, pois sabiam andar para frente sem nunca desistir. Seu pai saia cedo, quando tinha trabalho, e ao voltar no fim do dia, mesmo não trazendo nenhum dinheiro, trazia em seu rosto a alegria e a esperança e, a distribuir seu carinho, envolvia todos com seus apertados abraços. Eu a assistir tais exemplos de vida sempre me perguntava como era possível ser triste, infeliz ou descontente tendo tanto a comparar com quem tão pouco possuía. E a mirar seus passos, tinha naquele pequenino herói o exemplo a seguir quando em meu mundo tudo parecia desmoronar.
E muito mais passei a considera-lo, quando numa dessas madrugadas frias, rompendo a porta de sua pequena casa, entra a notícia da morte, por assassinato, de seu querido pai. Como perder alguém tão importante quando se têm tão pouca idade. Pais deveriam ser proibidos de faltar enquanto não estivéssemos em condições de decolar para nossos próprios voos. Filhotes somente são abandonados após a compreensão de como seguir sozinhos suas próprias jornadas. Assim se comportam os animais, assim deveria ser com os humanos. Não foi justo perder o tudo que restava.
Mas a vida exige mais de quem mais pode e, sem saber como e com muita coragem, esse pequeno herói passou a lutar pra proteger o que restou de sua família, pois afinal se transformara no homem da casa. E sua mãe, completamente despreparada e sozinha, inicia sua luta de guerreira feroz e decidida para dar condições e amor a seus pequenos rebentos que dela tudo dependiam. E eu a perguntar se isso era justo e como ser possível tanta perda e solidão. Arrancaram deles o que de melhor poderiam ter. Tiraram seu apoio, lhe colocaram pesos a carregar e lhes impuseram enfrentamentos num mundo grande, complicado e perverso. Passou a lutar contra algo maior que sua capacidade. E continuaram. Lembro dele, colega no Bilac, seguir outro e retornar ao convívio para cursar nossa faculdade de engenharia. Sua pequena irmã atravessou o Bilac, continuou no Maria Rocha e engenharia igualmente cursou. Que grande lição. Que capacidade e exemplos deixados por esses grandes heróis. Todo o dia ele e sua pequena irmã para a escola iam carregando tão enorme fardo sem que nossa inocente ignorância e egoísmo percebesse tamanha dor e drama escondidas em seus pequenos corações. Ambos cresceram e venceram. Deles nada mais sei. Mas carrego a certeza que jamais desistiram da busca por seus lugares e por isso serão sempre vencedores. São exemplos de vida que ocupam nossos corações e nos empurram sempre para frente. Terem estado entre nós foi muito importante e significativo. Quando a vida nos joga para baixo, as passagens e trajetória desses exemplos de força, perseverança e abnegação nos mostram o caminho para cima. Exemplos que nos sacodem e salvam como boias salva vidas a nos trazer novamente a superfície toda a vez que a vida nos leva a afundar. Por isso necessitamos construir nossos heróis a nos mostrar caminhos e saídas que sozinhos não conseguiríamos descobrir. Nós também a alguém servimos de heróis. Nunca devemos perder este foco. A vida precisa aprender tais lições e nós a ela devemos ensinar. Muito obrigado pela lição grande guerreiro, grande Norberto Moro. A ti presto pequena e sincera homenagem. Que tua vida seja repleta de felicidade, te dando pelo menos, um pouco do tanto que de ti outrora tirou. Que todos estejam bem. Que todos fiquem bem.
Jacob Chamis
Grande lembrança, Jacob.
ResponderExcluirConvivi com Norberto Moro. Realmente foi uma grande pessoa e colega durante curso de Engenharia
Depois nunca mais ouvi falar.
Mas independente de tudo - valeu JacoB! Muito Importante também estas considerações!
Realmente tens que largar Engenharia e te dedicar com afinco "às escribas"!
abs
Gerry F. Corino
Jacob, um dos melhores textos, pois o Moro é uma das almas mais queridas que conheci....grande exemplo para todos nós, pena que não responde aos e-mails. GRANDE NORBERTO, ENOOOORME CORAÇÃO PESSOA CARINHOSA AMÁVEL...
ResponderExcluirÉ verdade, Jacob!
ResponderExcluirLinda e feliz homenagem.
Acompanhei de perto a trajetória de Norberto e de Janete (a irmã).
A mãe (Dna. Gelsa, se não me falha a memória!)deles tinha um mercadinho na esquina em frente da minha casa.
Tocou o negócio pra frente com a ajuda dos dois filhos.
Dali saiu o dinheiro para os estudo a a vida profissional dos dois.
Êta mundo velho sem porteira!
A vida é para os fortes!
Beijão da Chris
Christina Trevisan
Brilhante, Jacob, brilhante!!!!
ResponderExcluirO Norba é gente finíssima!!!!
Aldo
Parabéns Jacob.
ResponderExcluirLuis Carlos Werberich