terça-feira, 24 de setembro de 2013

Paisagem Suína

Lembro daquela Rural, ano 1966, chamada carinhosamente de Gertrudes a subir os morros que circundavam Santa Maria. Meu pai possuía um pedaço enorme de terra no topo daquelas elevações. Era uma propriedade impar, casa bonita, área de lazer e criação de animais. Minha tarefa era alimentar os animais, ou seja, levar ração e restos de comida para os porcos. Seis lindos porcos, guardiões de nossa fazenda, evitando com isto invasões e apropriações por usucapião de vândalos e aproveitadores. A casa não era muito grande, pois com única peça, de dimensões modestas, do tipo 15 palmos por 11 palmos, de criança, impedia o veraneio de toda a família ao mesmo tempo, em períodos de férias. E nessa tarefa a solidão não me acompanhava, pois a sair do Maria Rocha e logo após o almoço fiéis companheiros ajudavam no carregamento do nobre veículo, e a subir a serra pela antiga estrada (o Perau), com exuberante vista e assunto posto em dia, seguíamos honrosamente a tentar cumprir nobre tarefa. Certa ocasião, alguém tentou alimentar um bichano mais retirado e arredio dando o alimento direto em sua boca. Tarefa considerado desafio todos nessa empreitada se envolveram. Mas o coitado do porco não queria colaborar e como criança mimada, se recusava a ingerir o alimento. Com coragem e ousadia alguém atirou-se contra o porco e foi seguido por outros que assim como o primeiro mergulharam de corpo e alma dentro do chiqueiro. Já que o porco queria guerra, todos se jogaram para dentro dos aposentos do suíno. E foi uma gritaria e algazarra e muita merda para todos os lados. Muitas merdas depois, ou melhor, muitas horas depois, quando já exaustos homens e porco, todos abraçados, porco e homens pudemos descansar em tão nobre local. E a descida, não poderia ser menos vexatória, pois quando paramos no Castelinho, quase na entrada da cidade, tivemos dificuldade de ser atendido pois o cheiro era tão insuportável que ninguém queria se aproximar da querida Gertrudes. O fedor era alucinante que em várias sinaleiras outros automóveis avançavam o sinal por não suportar ficar ao nosso lado aguardando a cor verde para o avanço. Alguém sugeriu que fechássemos os vidros e pensamos ser a aquilo o cheiro da morte tamanho o enjoo e tontura que nos causou. Fomos direto a um posto de lavagem automática e sentados no capô e teto da camionete, pedimos uma lavagem completa de carro e gente. Em casa chegamos feito pinto molhado, parecendo o Dick Vigarista e sua turma por cabelo escorrido e roupa encharcada. Mas o cheiro finalmente havia nos abandonado ou já estávamos acostumando. Até hoje carrego está dúvida, pois num sábado seguinte, ao comparecer num baile, ainda tinha por entre os cabelos mechas e fios dum castanho mais claro um pouco diferente de minhas cores originais. Mas que barbaridade e que espetáculo. E viva o 20 de setembro e abaixo o Combate do Ponche Verde. Alas frescas.

Jacob Chamis, e era isso numa 2ª feira com chuva.

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