“Pedaços
de Santa Maria”, construção da trilogia que, sem maiores pretensões, por
brincadeira, rabisca traços de nossa cidade.
Muito
obrigado pela paciência dispensada a esses esboços que por objetivo tiveram a
distração, deboche e entretenimento.
Mil
desculpas por enveredar pelos caminhos sem nenhuma competência, mas pela
saudade imagino merecer mil abraços.
Que
assim seja, e boa leitura a quem conseguir.
1.
Vento Norte
2.
Naquela Estação
3.
Ruas sem Rumo
Ruas
Sem Rumo (As Ruas de Santa Maria)
Como
águas agitadas de um rio longo e tortuoso, que entre escarpas e montanha correm
a criar atalhos e imprevisíveis caminhos, as Ruas de Santa Maria se projetam
aos mais remotos pontos, sem se importar com formas e traçados apenas para, nas
mais distantes paragens, ao seu destino chegar. Simples, claro e sem cerimônia,
vão passando por todos os lugares tentando aproximar quem de quem longe
estiver. E quem a elas seu destino confia, se enche de poesia e graça,
arrancando toda a magia enquanto por ela passa, depois que por ela cruza. Uma
cidade com alma sua geografia escolhe, não aceita ser projetada,
simplesmente quer ser desenhada. E essas ruas, entre riscos e
rabiscos despretensiosos, na tela de algum inspirado artista, em linhas de
pura leveza, vão de traço em traço, completando sua obra, surpreendendo pelos
contornos e apaixonando pela forma . E do jeito tal qual o artista imaginou,
seguem sem rumo definido cortando a cidade, perdendo-se pelos caminhos, subindo
e descendo, dobrando para lá e cá, de um lado ou outro, a brincar feito
crianças num imenso parque de diversões. Descem sem parar, sobem até cansar,
tornam a subir, descem para viver e sobem até morrer. Tudo feito com loucura e
delírio criando a sensação de serem coração e alma desse sentimental artista.
Todos vivemos essas emoções, todos somos essas sensações. Em Santa Maria, as
ruas não levam gente de um canto a outro, carregam emoções, transportam desejos
e como se procurassem segredos, entorpecem todos quem com elas ousam se
envolver. E a olhar para seu mapa percebo que em curvas côncavas ou subidas
convexas, sempre sinuosas, essas ruas percorrem, sem rumo, todos os caminhos
que melhor lhes convier. E por teimosas que são nunca tem direção, pois quando
retas não são planas, quando planas sempre em curvas, quando vão nunca voltam e
quando voltam nunca chegam e girando em curvas verticais, muitas vezes dobram,
quando lá no fim do caminho, não encontram rumo, não tem como voltar. E o frio
que dá na barriga e sobe pela coluna, quando a alma alcança, sem que o fôlego
tenha recuperado, num quase frenesi descompassado de ritmos alucinantes, para
no final da descida alcançar, buscando com trôpega ansiedade mesmas emoções
sentir, quando ao topo de outra subida, noutra descida cair. E nesse sobe e
desce, a experimentar gozos e alucinações, todos que nelas passam sentem o ar
aprisionado, pois com o fôlego trancado a respiração deixa de existir. E por
serem encantadas criam encontros que despertam paixões, tornam visíveis olhares
que trazem amores e estampam cores que curam melancolias e por ardentes e
fogosas, penetram em todas as moradas como se delas fizessem parte, pois quem a
essas ruas se lança, quando em outras moradas adentra, nem conta se dá que
pelas ruas atravessou para chegar tão distante, como se de sua casa nunca
tivesse saído. Armazenam essas ruas, durante a noite, como se
fotossínteses realizassem, desejos ardentes, paixões desenfreadas e ânsias de
amor que de tanto se dar, durante o dia, exauridas e sedentas a noite recuperam
para no dia seguinte, outra vez, a todos seu tudo, de novo entregar. Lindos
lugares escondem em segredo, a esperar de quem, com ardência, deseje seus
mistérios desvendar. A cor emoldurada em seu verde horizonte a olhar as
montanhas ao fundo, ou do alaranjado do por do sol virando para o outro lado
nos faz imaginar que todas as tonalidades e brilhos, de tanto
encantamento, para esse lugar foram morar e nunca mais embora quiseram
ir. Sempre que por essas ruas passo, algo diferente e secreto explode de tanto
encantar, pois meu coração parece estancar como a cristalizar por momentos, por
tudo que sempre lembro, pelas crianças que sempre passam, a correr por meu
passado, em toda e qualquer esquina que esse espetáculo descortina, nas
coisas que se eternizam para sempre em meu olhar. As Ruas de Santa Maria, que
esta paixão contamine. Que esse amor se complete. Que esta alucinação
desabroche. Espetáculo impar que por si só há de se realizar.
Jacob
Chamis
Parabéns ao contista-poeta Jacob!
ResponderExcluirAquidaban
Jacob, obrigado por todas estas histórias. Milhões de abraços.
ResponderExcluirLuis Carlos Werberich
Jacob,
ResponderExcluirAbraços, não somente pela saudade. Mas pela poesia e pelas emoções!
Chris
Mas é uma paixão!!!
ResponderExcluirCada conto e cada um destes pedaços de Santa Maria!.
Um abraço,
Marcelo Cóser
" ...todas as tonalidades e brilhos, de tanto encantamento, para esse lugar foram morar e nunca mais embora quiseram ir ..."
ResponderExcluirEncantador, colega!
Um abraço.
M Helena Rigão