quinta-feira, 26 de setembro de 2013

“Pedaços de Santa Maria”

“Pedaços de Santa Maria”, construção da trilogia que, sem maiores pretensões, por brincadeira, rabisca traços de nossa cidade.
Muito obrigado pela paciência dispensada a esses esboços que por objetivo tiveram a distração, deboche e entretenimento.
Mil desculpas por enveredar pelos caminhos sem nenhuma competência, mas pela saudade imagino merecer mil abraços.
Que assim seja, e boa leitura a quem conseguir.  

1. Vento Norte
2. Naquela Estação
3. Ruas sem Rumo

Ruas Sem Rumo (As Ruas de Santa Maria)
Como águas agitadas de um rio longo e tortuoso, que entre escarpas e montanha correm a criar atalhos e imprevisíveis caminhos, as Ruas de Santa Maria se projetam aos mais remotos pontos, sem se importar com formas e traçados apenas para, nas mais distantes paragens, ao seu destino chegar. Simples, claro e sem cerimônia, vão passando por todos os lugares tentando aproximar quem de quem longe estiver. E quem a elas seu destino confia, se enche de poesia e graça, arrancando toda a magia enquanto por ela passa, depois que por ela cruza. Uma cidade com alma sua geografia escolhe, não aceita ser projetada, simplesmente quer ser desenhada. E essas ruas, entre riscos e rabiscos despretensiosos, na tela de algum inspirado artista, em linhas de pura leveza, vão de traço em traço, completando sua obra, surpreendendo pelos contornos e apaixonando pela forma . E do jeito tal qual o artista imaginou, seguem sem rumo definido cortando a cidade, perdendo-se pelos caminhos, subindo e descendo, dobrando para lá e cá, de um lado ou outro, a brincar feito crianças num imenso parque de diversões. Descem sem parar, sobem até cansar, tornam a subir, descem para viver e sobem até morrer. Tudo feito com loucura e delírio criando a sensação de serem coração e alma desse sentimental artista. Todos vivemos essas emoções, todos somos essas sensações. Em Santa Maria, as ruas não levam gente de um canto a outro, carregam emoções, transportam desejos e como se procurassem segredos, entorpecem todos quem com elas ousam se envolver. E a olhar para seu mapa percebo que em curvas côncavas ou subidas convexas, sempre sinuosas, essas ruas percorrem, sem rumo, todos os caminhos que melhor lhes convier. E por teimosas que são nunca tem direção, pois quando retas não são planas, quando planas sempre em curvas, quando vão nunca voltam e quando voltam nunca chegam e girando em curvas verticais, muitas vezes dobram, quando lá no fim do caminho, não encontram rumo, não tem como voltar. E o frio que dá na barriga e sobe pela coluna, quando a alma alcança, sem que o fôlego tenha recuperado, num quase frenesi descompassado de ritmos alucinantes, para no final da descida alcançar, buscando com trôpega ansiedade mesmas emoções sentir, quando ao topo de outra subida, noutra descida cair. E nesse sobe e desce, a experimentar gozos e alucinações, todos que nelas passam sentem o ar aprisionado, pois com o fôlego trancado a respiração deixa de existir. E por serem encantadas criam encontros que despertam paixões, tornam visíveis olhares que trazem amores e estampam cores que curam melancolias e por ardentes e fogosas, penetram em todas as moradas como se delas fizessem parte, pois quem a essas ruas se lança, quando em outras moradas adentra, nem conta se dá que pelas ruas atravessou para chegar tão distante, como se de sua casa nunca tivesse saído.  Armazenam essas ruas, durante a noite, como se fotossínteses realizassem, desejos ardentes, paixões desenfreadas e ânsias de amor que de tanto se dar, durante o dia, exauridas e sedentas a noite recuperam para no dia seguinte, outra vez, a todos seu tudo, de novo entregar. Lindos lugares escondem em segredo, a esperar de quem, com ardência, deseje seus mistérios desvendar. A cor emoldurada em seu verde horizonte a olhar as montanhas ao fundo, ou do alaranjado do por do sol virando para o outro lado nos faz imaginar que todas as tonalidades e brilhos, de tanto encantamento,  para esse lugar foram morar e nunca mais embora quiseram ir. Sempre que por essas ruas passo, algo diferente e secreto explode de tanto encantar, pois meu coração parece estancar como a cristalizar por momentos, por tudo que sempre lembro, pelas crianças que sempre passam, a correr por meu passado, em  toda e qualquer esquina que esse espetáculo descortina, nas coisas que se eternizam para sempre em meu olhar. As Ruas de Santa Maria, que esta paixão contamine. Que esse amor se complete. Que esta alucinação desabroche. Espetáculo impar que por si só há de se realizar.
 Jacob Chamis

5 comentários:

  1. Parabéns ao contista-poeta Jacob!
    Aquidaban

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  2. Jacob, obrigado por todas estas histórias. Milhões de abraços.
    Luis Carlos Werberich

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  3. Jacob,
    Abraços, não somente pela saudade. Mas pela poesia e pelas emoções!
    Chris

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  4. Mas é uma paixão!!!
    Cada conto e cada um destes pedaços de Santa Maria!.
    Um abraço,
    Marcelo Cóser

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  5. " ...todas as tonalidades e brilhos, de tanto encantamento, para esse lugar foram morar e nunca mais embora quiseram ir ..."

    Encantador, colega!
    Um abraço.
    M Helena Rigão

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