Lembro daquela tarde quente e abafada quando uma dedicada professora ministrando sua aula tentava prender a atenção de todos. Tarefa ingrata pois o grupo de tão heterogêneo quase nem falava a mesma língua. E era assim, enquanto alguns dedicavam sua atenção a mestre, outros a viajar em seus pensamentos malignos, quase indecorosos, buscavam inventar algo digno de registro para a posteridade. Todos os ricos em espírito para o fundo se dirigiam e na janela se postavam a trocar confidências, narrar histórias fantásticas ou simplesmente olhar juntos a bela paisagem do fundo daquela sala. As vezes parecia existir uma parede invisível no meio da sala separando o fundo como se ele não fosse parte da mesma. E se era assim, viva a separação.E que fantástico o visual das janelas abertas para os morros da cidade. E como ficávamos encantados. Olhando em direção ao infinito todas as cores dos telhados das incontáveis casas contrastavam com única cor que pintava o horizonte de verde pela densa vegetação a subir as paredes altas daquelas escarpas esculpidas pela natureza. E o espetáculo nos fazia paralisados pois por estar tão próximo parecia onda de um tsunami, a se erguer, ameaçando invadir nossa sala. Lentamente outros se aproximam daquela moldura no fundo da sala. A brisa varria o calor que cobria os rostos de todos que ali se debruçavam. Assuntos variados, teses diversas e dúvidas sobre o estrago que alguma coisa jogada lá de cima, ao chocar com o solo, faria lá em baixo. Tamanha foi a dúvida, enorme foi a curiosidade que, voltando ao meio da sala, protegido pela parede invisível, uma classe foi erguida, um impulso preparado e numa disparada o projétil foi arremessado em direção ao infinito. Que grande lançamento. Como em câmera lenta, pudemos observar, pasmos, tamanho objeto a deslizar no espaço e como uma grande bomba explodir no chão a quase dez metros de altura. Parece que o estrondo fez todos acordarem do absurdo ocorrido e numa mistura de medo e excitação todos retornaram a seus lugares para travestidos de anjos, retomando as atividades de tão maravilhosa e reconfortante aula. O pior era aguardar o desfecho. Que rumo tomaria tal ousadia e desrespeito. Passados longos quinze minutos adentram na sala membros da direção e corpo docente carregando o que sobrara daquele móvel escolar e de forma abrupta já disseram:”Já estivemos nas salas de baixo e disseram que veio daqui”. Alguém ousadamente tentou argumentar:” Mas ainda falta verificar se não veio do telhado”. Pronto, foi o primeiro a ser despachado para a sala da diretora. Solidariedade é o que nunca nos faltou, e garbosamente, vários corajosos levantaram e disseram que também estavam envolvidos no projeto “Cabo Canaveral/ Divisão Barreira do Inferno”. E em fila indiana feito prisioneiros, uma dúzia de brilhantes alunos foram, cabisbaixos, em direção a fatídica Sala da Diretora. Foi um horror, jamais havíamos ouvido tantos xingamentos, ofensas e descomposturas. Sabíamos ser merecedores, pois tínhamos ultrapassado a barreira do razoável. Serenamente, pedi a palavra e disse que assumiria sozinho a responsabilidade pelo ocorrido. Tomado de orgulho e solidariedade, me ferrei completamente. Fui castigado pelo colégio, mas na minha casa fui inocentado e elogiado pela bravura de proteger os colegas. Desconfiada a Sra. Minha mãe, por azar, resolve comparecer no colégio. Ao ouvir da Sra. Dona Diretora e da Sra. Assistente a outra versão dos fatos, meu mundo desabou, minha vida virou um inferno. Além de ter sido sumariamente suspenso das aulas, fui proibido de sair de casa pelo triplo do tempo da pena escolar aplicada. Único consolo foi o retorno calorosos aos braços de tão fiéis amigos, cúmplices e vagabundos que protegi naquele fática tarde quente e abafada quando tudo aconteceu. Abraços fraternos e apertos de mãos fervorosos apagou o terrível período de quarentena e isolamento. A vida impõe aos inocentes grandes castigos e aos carrascos longos períodos de impunidade. Um dia o Senhor que tudo vê, virá entre nós para algumas correções. Que injustiça bárbara e cruel. Que espetáculo. Mas que barbaridade!!!
Eng. Jacob Chamis
Como dizes, que espetáculo de texto, brilhante, mas ...
ResponderExcluirQue barbaridade este artefato voando!
Grande escriba Jacob, lembras de um "ensaio" para o desfile da mocidade que fizemos no pátio, foi no 2º científico, que entramos marchando no prédio, subindo as escadas e atravessando os corredores e, se não me engano, o mor do pelotão era tu.
Que fantástico, Jacob querido!
ResponderExcluirUnião inteligente e harmoniosa de realidade, fantasia, humor e poesia!
EVOÉ!!!!!
Beijão da Chris
EU LEMBRO!!!!! BRILHANTE INTERVENÇÃO!!!
ResponderExcluirChris Trevisan
ssim não dá - tem gente que não faz mais nada, esperando os textos do Chamis! Nem na hora do almoço. Vamos ter que arrumar mais serviço para este povo!
ResponderExcluirPerdi de novo!!
Mas Jacob, cada dia estás melhor!
" As vezes parecia existir uma parede invisível no meio da sala separando o fundo como se ele não fosse parte da mesma" - O Érico Veríssimo tá na sola do sapato!!
Muito bom e agradecemos pela tua ousadia e coragem na época!
abs/Gerry F. Corino
"E o espetáculo nos fazia paralisados pois por estar tão próximo parecia onda de um tsunami, a se erguer, ameaçando invadir nossa sala."
ResponderExcluirSim Sr., um poeta.
Abraço
MHelena
Assim não dá - tem gente que não faz mais nada, esperando os textos do Chamis! Nem na hora do almoço. Vamos ter que arrumar mais serviço para este povo!
ResponderExcluirPerdi de novo!!
Mas Jacob, cada dia estás melhor!
" As vezes parecia existir uma parede invisível no meio da sala separando o fundo como se ele não fosse parte da mesma" - O Érico Veríssimo tá na sola do sapato!!
Muito bom e agradecemos pela tua ousadia e coragem na época!
abs/Gerry F. Corino
Gerry,
ResponderExcluirNa verdade eu só posso ler os e-mails ao meio dia, o "chefe" aqui, um tal de Grassi, só permite acesso aos particulares neste horário, o cara é um tirano, ainda vou me queixar ao Ministério Público.
Com relação ao texto, dizem que o "corpo que caiu" é o precursor dos tais aviões stealth, aqueles não detectados pelo radar, só é localizado quando cai no chão, mas sem que se saiba a origem da partida...
Vens para a grande festa?
Abraço
Grassi
Aldo Luiz,
ResponderExcluirQuer que eu interceda junto ao Ministério Público (tenho um bom tráfico de influência por lá...) ou você prefere que eu me dirija diretamente ao Presidente Jacob?
Acho uma tirania limitar o acesso à memória cultural do MR3.
Chris presente na grande festa!
Falta só providenciar o modelito!
Bjs.
Christina Trevisan