quinta-feira, 5 de setembro de 2013

ENG° JACOB CHAMIS


Por estar ausente, coloco os fatos entre aspas.
(aspas) Era um sábado, quase final de ano, despedida para sempre do Maria Rocha. Nervos a flor da pele, vidas a dobrar esquinas. Um dia solto no calendário escolar. Alunos a buscar movimentos em direção ao nada, apenas para não permanecerem parados. É isso não se têm destino traçado. Movimentos, apenas movimentos. Conversas despretensiosas, risos soltos, mentes abertas ao caos, tudo a preencher tempos vagos. Era o último ano. Algo precisaria acontecer para deixar marcas para sempre. Ideias, planos, invenções a serem formatadas. Que tal criarmos o maior “desvestirse en la escuela”, última moda em Madri? Maravilha, mas como fazer? É simples, basta retirar de qualquer pessoa o maior número de peças de roupa que estiver vestindo. Era como uma roleta russa das anáguas. Qualquer movimento perderia a camisa, ficou imóvel perdeu a calça e os sapatos já a muito deveriam ter sumido. Meias ficariam para manter a sobriedade. Depois de vagarem pelas ruas a procura de vítimas, e quase desistindo por não encontrar ambiente propicio, já não sabiam o que fazer. Estavam sedentos como canibais, consumindo quantidades exageradas de Balas Chita e quase frenéticos totalmente incontroláveis se voltaram contra os membros do próprio grupo escolhendo quem, num inocente movimento de abanar a um amigo, convergiu para si todas as atenções e fúria. Essa pobre vítima se chamava Aldo Luis Grassi que carinhosamente foi desnudado e covardemente jogado em uma lata de lixo. A fúria e histeria juvenis somente aumentavam. Garboso, solidariamente alguém disse: "Porque não com alguém do tamanho de vocês?" Funcionou como grito de guerra e, só de cuecas, abandonado em outra lixeira, ficou Claudio Weissheimer Roth com os pés para fora sem condições de sozinho desembarcar de tão nobre local. O tumulto foi grandioso, a desordem generalizado e o espanto tomou conta de quem assistia tal barbárie. A meta era pelar todo o bairro e nem as velhinhas seriam poupadas. Algumas moças de vida fácil, que por ali passavam, se ofereceram para tirar suas roupas, mas o comitê decidiu que por livre e espontânea vontade não podia.  Ensandecidos cruzaram a rodoviária com destino a São Sepé, mas retornaram pois sua população na época era reduzida. O destino seria São Paulo. E muita Bala Chita distribuída. Resolveram ficar e anarquizar apenas Santa Maria. Cânticos de guerra foram entoados e a cidade quedou paralisada. Enlouquecedora  e devastadora foi a maior ação coletiva caótica proporcionada por corpo discente de um estabelecimento de ensino,  quiças de todos os pertencentes a 8ª Coordenadoria Regional de Educação seccional Santa Maria. E tudo somente acalmou na noite do outro dia.Porém tais atos não deveriam ficar impunes. Uma série de reuniões com os pelados e peladeiros. Alguns disseram que as Balas Chitas eram alucinógenas. Mas o pior, a exigência da delação por parte da direção, foi golpe mortal. Quem foi? Quantos foram? Quem participou? Quem pelou e quem foi pelado? Delatar, algo impensável, palavra nunca pronunciada, atitude proibida. O maior de todos os castigos, entregar amigos tão queridos e cúmplices. E dentro desses princípios éticos de jamais delatar e trair, o silencio foi total. Então na calada da seção de tortura, quatro pobres inocentes foram escolhidos como mártires. E os coitados, Fração, Asdrubal, Marinho e Papandreus, foram descartados como garotos de programa da periferia, ou seja, fodidos e mal pagos. Não participaram, não viram e nem se manifestaram, mas se lá estivessem certamente fariam parte ativa daquelas diabólicas ações, e alguém tinha que pagar. Sangue deveria rolar. Serviria o rigoroso castigo como exemplo a gerações futuras para que jamais repetissem tão afrontoso atentado aos bons costumes. Até hoje marcados, sentem a dor da perseguição. Inclusive têm dificuldades em presenciar shows de striptease. Um deles foi visto correndo em desatino nas proximidades da Casa Gruta Azul, dizendo:”Não fui eu, não fui eu”. Entre muitos o trauma perdurou e seus atos de bravuras sexuais ocorreram apenas com pequenas aberturas intimas das roupas, pois nudez total, jamais. De positivo ficou um belo exemplo de coragem e ousadia desafiadora,mesmo inconscientemente, deixado aos atuais jovens brasileiros. Fomos informados que as manifestações que hoje jogam milhões as ruas não são pelos vinte centavos, mas pelos vinte alunos que desafiadoramente enfrentaram os grilhões da juvenil escravidão. Os demais foram facilmente identificados em seções de orgias coletivas por serem os únicos vestindo calças de veludo cotelê e gola olímpica em noites quentes de verão a dizer: Pelado, nunca mais, nunca mais. Coitados. (aspas)
 
Jacob Chamis

6 comentários:

  1. Vocês lembram que por causa deste episódio dos PELADOS NO IMA, na ocasião SETE colegas foram fichados no DOPS................
    Marcos Edward Carvalho

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  2. Cada vez melhor Jacob! estávamos ansiosos por este relato!
    " consumindo quantidades exageradas de Balas Chita!" e
    " atos de bravuras sexuais ocorreram apenas com pequenas aberturas intimas das roupas"
    são parágrafos dignos de quadros!
    Muito Bom! Parabéns CHamis
    Ah, me ajudem na memória - não houve também uma sessão de "pelação" no pátio do Maria Rocha?
    abs
    Abs/Gerry Corino

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  3. Bom dia a todos!
    KKKKK!!! Foi o máximo! Nunca esqueceremos deste fato, não importa a versão!!!
    Palmas para Jacob novamente!
    Vamos continuar com a "Hora do Causo", sim??
    Todos aguardamos ansiosamente!
    Beijão da Chris

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  4. Jacob e colegas, bom dia!
    Deverasmente lisonjeado com tal narrativa não posso deixar de registrar que aguardava ansiosamente por esta tua história.
    Ainda tenho na memória estes fatos e lembro do que ocorreu na segunda feira seguinte ao fato.
    Todos nós, indo para suas salas e o Claudio Roth "detido" na sala da secretaria, junto com a Cecília (era ela a secretária se não me engano) para explicações.

    Dizem as más línguas que ele deveria novamente arriar suas calças porque haveria reconhecimento visual das imagens que tinham ficado registradas na retina de digna senhora no sábado fatídico.

    Uns correm para cá, outros correm para lá, mas todos no intuito de defender o colega de tal reconhecimento.
    Eis que, ao iniciar as aulas do "puleiro", adentra o colega Enio e, sem pedir qualquer permissão à mestra de plantão, brada em alto e bom som:

    "TODOS QUE PELARAM OS COLEGAS DESÇAM E COMPAREÇAM À SECRETARIA"
    Imaginem o rebuliço na sala de aula, foi um corre corre, juntar cadernos, livros, material escolar e descer para prestar solidariedade aos colegas que foram desnudados.
    Buenas, o resultado todos sabemos, suspensão coletiva, por sete dias letivos e, para quatro colegas transferências para outros colégios.
    Mas como estou no serviço e o chefe está chamando, depois continuo com minhas lembranças dos fatos.
    Tem a história das bombas no IMA.
    Parabéns Jacob, estas tuas crônicas de nosso cotidiano escolar estão simplesmente maravilhosas!!!!

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  5. Jacob e colegas, bom dia!
    Deverasmente lisonjeado com tal narrativa não posso deixar de registrar que aguardava ansiosamente por esta tua história.
    Ainda tenho na memória estes fatos e lembro do que ocorreu na segunda feira seguinte ao fato.
    Todos nós, indo para suas salas e o Claudio Roth "detido" na sala da secretaria, junto com a Cecília (era ela a secretária se não me engano) para explicações.
    Dizem as más línguas que ele deveria novamente arriar suas calças porque haveria reconhecimento visual das imagens que tinham ficado registradas na retina de digna senhora no sábado fatídico.
    Uns correm para cá, outros correm para lá, mas todos no intuito de defender o colega de tal reconhecimento.
    Eis que, ao iniciar as aulas do "puleiro", adentra o colega Enio e, sem pedir qualquer permissão à mestra de plantão, brada em alto e bom som:
    "TODOS QUE PELARAM OS COLEGAS DESÇAM E COMPAREÇAM À SECRETARIA"
    Imaginem o rebuliço na sala de aula, foi um corre corre, juntar cadernos, livros, material escolar e descer para prestar solidariedade aos colegas que foram desnudados.

    Buenas, o resultado todos sabemos, suspensão coletiva, por sete dias letivos e, para quatro colegas transferências para outros colégios.
    Mas como estou no serviço e o chefe está chamando, depois continuo com minhas lembranças dos fatos.
    Tem a história das bombas no IMA.
    Parabéns Jacob, estas tuas crônicas de nosso cotidiano escolar estão simplesmente maravilhosas!!!!

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  6. 40 anos é tempo suficiente para esquecermos de partes do melhor e do pior....lembro que perdi essa por não ter ido na aula naquele sábado fatídico. Mas participei ativamente dos "treinos" nos dias anteriores. Até hoje me arrependo de ter faltado no sábado. Nunca esqueço da cara do Agostini quando chegou, dias depois, para dar aulas e só encontrou eu e o Luis Antonio Pascotto de homem na sala. Todos os outros tinham sido suspensos. O Pascotto, tudo bem, aluno exemplar, melhores notas da turma, nunca participaria disso, etc.. Mas EU??? Assim ficamos por uma semana. Lembrem que tudo começou por causa das ceroulas que alguns usavam, inclusive o Cláudio. Também lembro que o verdadeiro denunciante foi o Sr. Tobias (??) que era o proprietário da Casa Paulista, logo abaixo do IMA que serviu de refúgio aos pelados. Nossa assistente, se bem lembro, era uma sra. baixinha (Cirylinha???). E a ignição para o fato, que já vinha sendo ensaiado antes, foi uma jarra de caipirinha do bar do seu Claudino Menezes que ficava logo em frente. Se puxarem mais pela memória, fatos isolados vão se somando e verdade vai acabar vindo a tona.
    Abraço, Brutti

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