quarta-feira, 11 de setembro de 2013

ENG° JACOB CHAMIS

O Dia/Hora, 11/set/09hs, remete a fatos desagradáveis que em todos os sentidos devem ser abominados, não importando qual lado, pois todos sempre perdem. Nesse caso a História se sobrepõe a isso e não podemos deixar de trazer a luz, fatos de relevância superior que tanto marcou a vida escolar.
Segue portanto esse brilhante thriller que conta em detalhes o que, na calada da tarde, sacudiu os corredores de nobre estabelecimento de ensino que, como um divisor d’água, tirou a inocência daqueles jovens que almejavam uma vida digna de acordo com as lições que seus mestres assim indicavam. Tais fatos acabaram jogando todos nas profundezas de um mundo cruel cheio de armadilhas. A todos um bom entretenimento. Ass. o autor.

A BOMBA RELÓGIO

Aulas a tarde pareciam nunca acabar. A manhã voava, mas a tarde era muito demorada. Era imaginar quanto melhor seria estudar pela manhã e ter a tarde toda livre para qualquer coisa. Mas até o penúltimo ano sempre foi a tarde. No IMA, último ano, pela manhã. Ora, se a tarde passava muito rápido teríamos menos tempo para atividades extra classe durante as aulas. Então muito melhor ter mais tempo a pensar encrencas junto com os demais, o que fazia aulas a tarde uma grande aventura. Viva a aventura da tarde. E sempre surgia alguma, não falhava nunca. E foi num calorento dia de final de ano, lá no prédio do Bilac que alguém apareceu com um pequeno rojão, aqueles guardados desde a dia de São João. O que fazer e como transformar o pequeno artefato em aventura. Temos até o recreio para inventar algo. Ainda bem que eram três períodos, três aulas de cinquenta minutos, exatamente duas horas e meia. Grandes cérebros de minhoca sempre inventavam boas coisas. Muitas reuniões no fundo da aula. Na ponta dos pés todos agachados e sorrateiramente deslocavam-se até a classe do vizinho para apresentar sugestões e planos mirabolantes. E surgiu a ideia: Colocar numa ponta de cigarro o pavio do nosso rojão, ascender e depois esperar o milagre acontecer. Onde colocar? Numa lixeira qualquer, pois existiam muitas nos corredores aqueles pequenos recipientes com areia que serviam para descarte de objetos menores. E qual delas? E como não ser descobertos? Pensa daqui, pensa dali, e a lixeira seria a do lado da sala da direção. Frisson total. O melhor de todas os locais. Bombardear o Pentágono, a mãe de todas as ideias.Mas como fazer, pois é muito arriscado. Mas é por isso mesmo, quanto maior o perigo, maior a diversão. E quem seria, ou seriam os agentes? Isso não era problema, pois voluntários nunca faltavam. E lá fomos. Algum fumante cedeu um toco de cigarro, embrulhou num papel de almaço usado, bem enrolado, ascendeu, jogou no cesto, sem ser percebido e seguiu para o pátio, para se juntar aos demais que já curtiam o recreio. Então aguardar. E foi a espera mais espetacular, intrigante e nervosa que eu lembro ter vivido.( Nota do autor: tudo sempre ou é mais ou é menos, jamais mais ou menos). 
E a espera nos consome. O tempo passa e a sineta anuncia o final do recreio. E vagarosamente todos a passos de tartaruga se dirigem as salas. E a servente insiste em tocar a sineta. Era muito intenso o balanço do seu braço a arrancar sons estridentes daquele sino portátil.
E foi durante a aproximação da porta que tudo ocorreu. Um estrondo, apenas um estrondo, o maior de todos os estrondos, e o colégio tremeu. Alegria e medo, excitação e pavor. Todas as emoções misturadas. O Sr. Pluto, guarda escolar, quase graduado Coronel da Brigada Militar, a correr a largos passos de tartaruga, adentra ao colégio e com olhar enigmático e sem arma alguma, apenas com a cara e coragem, grita,: “Os meliantes serão identificados, começaremos já fortíssima investigação, isolem a área, eles verão o sol nascer redondo, digo, quadrado”. E a servente agitadamente, agarrando-se ao pescoço do guarda a gritar:”Eu vi, eu vi, jogaram lá de cima, da escada, eu, vi , eu vi”. Todos correram e agitados concordaram com ela e se preciso fosse testemunhariam para esse veredito. Foi um retorno trepidante, pois nos corredores só se falava nisso. E todos obrigados a guardar esse enorme segredo que quase não cabia dentro de nenhum de nós.
O pior do grande feito é não poder contar. Ainda bem que foi em grupo e podia ser compartilhado. Sozinho não daria. Fizemos um pacto de silêncio com água. Cada qual jogou água nos pulsos e estava selado o acordo. O crime continua sem culpados, o autor livre e a pena prescrita. Por isso o crime compensa no Brasil, ou não é solucionado, ou alguma lei solta, ou quando chega a última instância já prescreveu. Segundo o guarda Pluto foi obra de homem bomba  e fumante, pois foi encontrado a ponta do cigarro sem marcas de batom, por isso não era mulher bomba. Devido a esses tão elevados préstimos e brilhantes deduções, nosso guarda foi condecorado e promovido a Soldado Raso. Que espetáculo. Mas que barbaridade!


Jacob Chamis

3 comentários:

  1. To atrasado, mas não menos interessado.
    Magnífica lembrança!
    E também a narrativa..., que vai surpreendendo o leitor ao mesmo tempo o leva a fragmentos de lembranças. Rico antagonismo!!!
    ... e a nota do autor também foi oportuna e é representativa do espírito desta turma naqueles anos: + sim, - sim, +/- não!!!; > sim, < sim, = não!!!, tudo potencializado, ahahahah!!!!
    Dale, Jacob! Vai em frente que tem público.
    Abc

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  2. O cara está cada vez melhor. Lembro muito bem desse dia, inclusive das consequências do ato. Uma das maiores inquisições pela qual passamos. Inicialmente, sala da direção e do Dr. Cirilo. Depois, conselho de classe. Até hoje não sei como escapamos dessa.....
    Abraço, Brutti

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  3. O cara está cada vez melhor. Lembro muito bem desse dia, inclusive das consequências do ato. Uma das maiores inquisições pela qual passamos. Inicialmente, sala da direção e do Dr. Cirilo. Depois, conselho de classe. Até hoje não sei como escapamos dessa.....
    Abraço, Brutti

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