Se as aulas começavam as 13 horas, porque chegar antes. Antecipar, jamais, atrasar, sempre. Era de enlouquecer entrar no colégio após o momento da batida,( o usual entrar atrasado, depois de ouvir, "já bateu, vamos entrar"), e encontrar vários já sentados aguardando o inicio do calvário. Isso era loucura, é como gado a aguardar feliz a hora do abate. Perdão, mas era inadmissível. Quem fez isso tem que se reciclar agora. E o que dizer dos assuntos urgentíssimo que surgiam quando a ordem era calar. Não tinha como adiar. Dizer depois perderia o sentido. Tinha que ser naquele momento, e valia arriscar. E qualquer ruído, tosse ou bocejo era certamente explosão de risos. Tudo era muito intenso, era a gargalhada na ponta da língua, nunca a lição, mas sempre o riso querendo irromper de dentro de nós. E pedir para ir ao banheiro? Feliz de quem tinha o intestino solto e podia visitar o paraíso a todo o instante. E qual professora arriscaria impedir? Já houve casos de alunos trazerem de casa atestados médicos solicitando visitas ao sanitário de hora em hora. Que inveja, poder sair da sala de torturas e sentar feliz no trono sagrado a perder por baixo o que em lindos pensamentos entrava por cima. Quem me dera ter diarreias diárias para viver livre entre cadeiras e vasos sanitários. E dos grampos encaixados entre madeiras embaixo das classes a fazer sons clássicos ou gregorianos, a embalar nossos momentos de solidão coletiva quando todos eram obrigados a não dar nenhum "piu". O som dos grampos sempre fascinou, pois era anônimo e muitíssimo excitante. Era receber cócegas pelos ouvidos. E das professoras, adorava as rigorosas, pois essas embalavam meus sonhos eróticos. Quem nunca fantasiou sair com a professora exigente e entre beijos e apertos ouvir a maravilhosa frase, " cala boca e mexe? Quem me dera poder viver isso, mas desgraçadamente nenhuma quis sair comigo, ou por que era comprometida, ou por que não teria forças de montar em mim, pelo reumatismo já avançado naquele momento de suas vidas. Doces lembranças a embalar meu sono ainda infantil. O pior era o dia das provas. Era o clímax dos anos de chumbo. Era pau de arara escolar. Não tinha como não sofrer. Apenas os mais afortunados, com sorriso de hiena nos lábios, se encontravam felizes. Marcianos disfarçados de terráqueos. O verdadeiro ser humano sempre em dia de prova sofre, se não sofrer é desumano, ou seja, extraterrestre. A escola era nosso mundo. Umas várias vezes me apaixonei no colégio. E tracei estratégias a me levarem a grandes conquistas. Treinava em casa. Colocava uma poltrona num canto da sala, sobre ela um vestido de minha mãe e a caminhar pela casa, ficava a passar pela cadeira sem jamais olhar, mantendo o rosto para frente, sem nunca vacilar. Objetivo do treino: "dar duro". As vezes pedia a um irmão para observar se eu fazia isso naturalmente. Muitos treinos depois, já a caminhar próximo as musas escolhidas, aplicava a técnica desenvolvida. O pior foi descobrir que, o que eu fazia com muito treinamento e afinco, elas faziam com a maior naturalidade, ou seja, me ignoravam sem o menor esforço. Oh vida, oh tristeza. E entre foras e rejeições, segui meu caminho sempre apaixonado, sempre ignorado. Mas nem sempre foi assim, pois muitas vezes encontrei meu par adorado e entre olhares e conversas ao ladinho do ouvido da amada, tive relações sólidas que envolveram, desenvolveram e duraram por longos e maravilhosos 15 dias. As que eram para casamento, a última paixão antes da morte, essas pela eternidade de 2 meses reviraram completamente minha vida. Minha dificuldade com as paixões era igual a Biologia, ou seja, não prestava atenção, não me envolvia, e por consequência só tirava zero. Passar só colando. E colar, que espetáculo. Nunca, jamais, com papeizinhos ou escritas em réguas, pois isso constitui prova cabal e irrefutável. Era condenação certo. O jeito infalível é a consulta entre cochichos e furtivos olhares para a prova do vizinho, desde que ele soubesse a matéria, senão era fracasso retumbante. Certa vez confiei no colega sentado ao meu lado, mas o cara sabia menos que eu. Não tive outra alternativa, levantei do meu lugar, dei 3 petelecos na orelha dele e pedi para trocar de lugar, pois minha cadeira estava fincando na minha bunda. Sempre dava certo, pois as professoras respeitavam bundas em sofrimento.
E entre desacertos e alegrias concluímos sem nunca ter rodado, todos os anos e séries curriculares, com pouco louvor e muita diversão. Quem ficou para trás deve ter tido problema na cabeça, tipo caspa interna, pois ser aprovado era como subir num trem e deixar os vagões nos carregarem deliciosamente nessa doce e excitante viagem.
E viva as professorinhas, camaradas, exigentes, gostosas ou simplesmente amigas. E não saí com nenhuma, MAS QUE BARBARIDADE!!!!!!
Jacob Chamis
Que início de domingo!
ResponderExcluirQuem não teve sonhos iguais aos teus Jacob, que atire o primeiro giz.
Dias desses também lembrei do grampo entre classes, deveria ser um martírio para as professoras, um lá no fundo dava um toque e alguém do outro lado da sala respondia, parecia eco.
Lembras quando colocávamos o apagador em cima da moldura do quadro negro, que na verdade era verde, para que as professoras de mini saia e, logicamente menos brabas, se espichassem e nós ficávamos torcendo para ver se aparecia algo mais?
"QUE BARBARIDADE!!!!!!!!!!"
Com estas tuas crônicas, contos, poesias ou seja lá que estilo tenham teus textos a memória é reavivada toda hora.
Bom domingo a todos vocês queridos colegas.
Grande bj do
Aldo Luiz