sexta-feira, 30 de agosto de 2013

ENG° JACOB CHAMIS

Naquela Estação,
Sentado em meu lugar, olhando pela janela de minha sala de aula, ficava a sonhar imaginando para onde levaria tantas vidas esse trem que insistentemente não parava de apitar. Como grandes paralelas, seguiam os trilhos em direção a velha estação situada a última curva daquela longa avenida que, partindo do centro, rumava ladeira abaixo a mergulhar em enorme largo de paralelepípedos tal qual uma grande lagoa de pedras. Dançando sempre em frente chegavam ou partiam desta estação tantos vigorosos trens quantos em seus trilhos coubessem. Seus encantos e sua magia se davam a cada embarque e desembarque. Seu cotidiano era de repetidos encontros e desencontros. Quem chegava buscava com seus braços os abraços nos braços de quem encontrava. Quem partia oferecia seus braços aos abraços dos braços de quem separava. E em jornadas de partidas e chegadas sempre o mesmo trem a papéis tão opostos se prestava. Até hoje lembro, quando ainda criança aguardava ansioso, a correr pela estação para apressar o tempo, a chegada do trem que a tantos tanto trazia. E na plataforma, a juntar seus cacos de vida, ficava quem nesse lugar permanecia. Saudade dividida em partes iguais onde uma metade seguia levada com quem partia e outra ficava guardada por quem ali permanecia. Alegrias dos reencontros compartilhadas com dores das despedidas, tudo numa mesma plataforma. Composições que de tão grandes quase na estação não cabiam, e como por mágica, no horizonte lentamente desapareciam. Belas viagens, grandes passeios. Quem não os fez?

Na estação de Santa Maria a mirar pontos opostos, num olhar a fronteira se podia enxergar, e para o outro o litoral observar. Tudo sem sair da mesma estação. Posição estratégica dessa cidade, onde a distância de tudo é sempre metade, por caprichosamente estar situada no meio de todos os caminhos.

Em tempos idos adiante tenho a lembrar das viagens no trem Húngaro em direção a capital vindo de Uruguaiana, ou contrariamente de Porto Alegre retornando a fronteira. Como novos horizontes de progresso ao nosso convívio parecia ter chegado para sempre ficar. Trem moderno de belos jantares servidos. Viagem moderna parecendo nos conduzir a um futuro que não teria fim. Viagens interrompidas que se perpetuaram em nossa memória. O que foi bom pouco durou, e hoje locomotivas, estações, plataformas e velhos trilhos só nas grandes viagens de minhas doces lembranças.

E foi dessa estação que, já a distantes 40 anos cada um partiu em busca de seu próprio encontro. E é para essa mesma estação que agora todos retornam em busca de seu novo reencontro.
Jacob Chamis

2 comentários:

  1. Caro Jaka!
    Tá na hora de parar de enterrar tubulações de PEAD e te dedicar exclusivamente a escrever com essa competência que estava encoberta.
    Chega de Paulo Santana, chega de David Coimbra, chega de José Simão!
    Super abraço!

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  2. Também acho!
    Como disse a Thaís, "encantamento" é a palavra!
    Sem nostalgia, sem tristeza, sem melancolia!
    Apenas emoções e encantamento!
    A estação que nos aguarde!
    Palmas em pé, Jacob querido!
    Bjs. da Chris

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