E agora João?
O cacaio e eu, nos anos idos de 90, 91 ou 92, sei lá, tínhamos 2 filhos, Gabriela, comigo e Pedro, com ele.
E, na verdade, naquele momento eramos apenas nós quatro.
Hoje temos Nathália, Juliana e Luíza. Ele padrinho de Juliana e eu de Luíza.
Mas vamos aos acontecimentos.
Cacaio morava na Duque, tinha um cachorro salsicha chamado Frederico, e ele é o personagem.
Como no apartamento tinha forração e o Frederico implorava sempre para sair, começou a cavocar na forração, junto a porta da rua.
Cavocou tanto que soltou a forração prejudicando a abertura da porta do apto.
Era difícil entrar, pois a porta trancava. Um dia isso seria consertado. Mas não foi.
Certo dia chega Cacaio em casa, muito apertado, alucinado por um banheiro, necessitando seu precioso vaso.
O almoço fora muito bom, mas fora feijoada.
Tenta, empurra e chuta a porta e se desespera.
Continua lutando ferozmente, fazendo muito barulho, porém necessário,pois era caso de vida ou merda, digo morte.
No apto ao lado, morava uma boa senhora que assustada com o barulho veio a porta.
- Nossa o que acontece aqui, disse ela aflita.
- É que a porta trancou e preciso entrar pois estou necessitado, disse Cacaio.
- Pois meu filho, sei como é isso, venha ao meu banheiro, não tem problema.
Desesperado, sem pestanejar Cacaio entra no apto, vai ao banheiro e de lá grita:
- Não quero incomodar mais, mas a senhora por acaso não tem a última Playboy?
A partir daí ficaram bons amigos, tanto que passaram a dividir a faxineira.
Mas Frederico também mostrou-se astuto e esperto.
Pedro e Gabriela sempre pediam para passear com o cão, e ele sabia que iria sofrer, pois era puxado, apertado e empurrado. Coisa de criança.
Pois um belo dia, ao ouvir que haveria passeio, o pequeno cãozinho, apavorado, correu para o canto da sala e, pasmem, fingiu estar dormindo.
Isso mesmo, dormindo. E era tão real que ele até roncava.
Bom cachorrinho.
E esse é o João, tão querido, que por ironias que não se compreende bem, perdeu seu muito amado Pedro naquele horroroso acontecido.
Lembro do amor dado a esse filho. Alias, o Cacaio é um cara assim, que ama desesperadamente.
Mas hoje a dor rebenta seu coração todos os dias e assim será para sempre.
Ninguém que não passou por isso imagina como é.
Perdão por estar escrevendo isto, mas todos temos a obrigação de compreender tamanha dor.
Peço a todos que tem filhos que olhem rapidamente para cada um deles e imaginem nunca, mas nunca mais poder abraçar, beijar ou segurar suas mãos.
É totalmente enlouquecedor.
Minha esperança é a transformação dessa dor, talvez um dia, com o poder do tempo, em energia que vira mais amor para mias mais amor receber.
Isso tem que ser assim. Essa dor tem que virar mais amor.
Pelo Pedro ele há de se reconstruir. Esse amor pelo seu amado filho se transformará em fonte inesgotável de mais amor.
É como panfleto de esquina dado a quem simplesmente quiser receber.
Amo esse cara e sei que todos também.
Nunca junto dele me senti desamparado. Ele tudo o que tem sempre divide.
Amor ou indiferença. Essa é a sua vida. Intensa raiva as vezes, muita encrenca quase sempre.
Mas é assim, bem simples, quem quer que assim o tenha.
Caso contrário, nunca será esse maravilhoso sujeito.
Minha homenagem a Maria Cecília, mãe de Pedro.
Minha dor e homenagem a toda a cidade.
Nem todos conhecem o Cacaio, nem todos talvez saibam quem é João Carlos Nunes da Silva.
Mas ele existe e está por aí perto de todos vocês.
Abracem ele, será bom para tudo.
Jacob Chamis
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