A aula corria solta.
No IMA, casa antiga, muito antiga, enfrentamos o último ano de nosso colegial.
Construção moderna para a época que o bisavô da Prof Maria Rocha, ainda criança, ali estudava.
Mas enfim, foi o melhor que conseguiram para nos colocar em aulas pela manhã.
Foi uma grande novidade.
Num certo dia de aula, saio de casa, já atrasado, corro pela Duque até a Bozano e desço embalado como sempre, até a Conde de P.Alegre.
Aí entre essas importantes artérias, o IMA e, estacionado junto ao cordão, o magnifico automóvel Fubica de Antonio Vollino de Vargas.
Chê que espetáculo. Que coisa formosura. Foi amor a primeira vista.
Entramos na sala, não se falava noutra coisa.
Nem todos estudavam na mesma sala, mas todos formavam uma única turma.
Mas a fubica é a vedete nesta história.
Era uma grande paixão que todos nutriam por ela.
Quando ela chegava nossos corações disparavam e nossos olhos brilhavam.
E o plano já estava elaborado.
O Vollino envolvido em mil atenções, mil carinhos de modo a nunca se aproximar da porta de entrada do IMA.
Roubar a Fubica era simples. Bastava conseguir um prego, colocar no buraco apropriado do painel e dar a partida.
Todos carregavam um prego dentro da pasta. Todos tinham uma duplicata desta chave mágica.
Ligar e sair era fácil, difícil era organizar a fila para o uso.
O plano era contornar a Niederauer até os bombeiros e retornar pela Bozano.
Tudo planejado, tudo combinado. Grupo saia sorrateiramente, grupo retornava disfarçadamente para dentro da sala.
Nunca vi tamanha sincronia. O coração sempre batia acelerado.
Era um sucesso. 2 na frente e 3 atrás, tipo Huginho, Zezinho e Luizinho, pois o banco traseiro era tal qual o Pato Donald´s car.
Não vou nominar ninguém pois vou inocentar alguns por esquecimento, mas não houve exceção nesta empreitada.
Mas num infeliz dia, a Fubica cansa e nos deixa na mão lá por perto da Ipiranga, talvez como castigo da traição por termos ido tão longe.
Difícil foi voltar. Pior retornar a tempo, antes do final da aula. Mas o catastrófico seria comunicar ao nobre proprietário o ocorrido.
Ele sempre soube de tudo. Nunca demonstrou saber. Era uma raposa. E sempre consentiu, tipo irmão mais velho a cuidar de seus caçulas.
Um grande coração. Uma bondade absoluta.
Mas não teve perdão. Nunca mais chegamos perto da Fubica.
Sofremos feito petiço emprestado.
Mas o Vollino nos impôs essa lição.
Nosso amadurecimento dependia daquele castigo.
Crescemos, mas até hoje não posso ver um prego que choro.
Minha amada Fubica. Que saudades.
Jacob Chamis
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