terça-feira, 27 de agosto de 2013

CHRISTINA ACHUTTI TREVISAN

Esta veio de Maria Christina Achutti Trevisan.
Escrita por ela, estragada por mim.

Naqueles tempos idos estudar línguas não parecia indispensável.
Se os filmes eram legendados, certamente os contatos com estrangeiros seriam dublados.
Era a nossa esperança.
Mas o colégio não pensava assim e nos enchia de aulas de inglês e francês.
E não era ruim, se ministrado com competência.
E era o caso da Prof. Alda Pippi. ( Deus um dia aprenderá francês com ela).

Mas os fatos.

Sentados na mesma fileira, dois maravilhosos colegas, Christina e Clóvis Menezes.
Ela tartamudeava e ele gaguejava.
Nota: acho que eles falavam devagar, mas Christina insiste que gaguejavam.
E acrescento que ela era musa no meu 5º ano primário e ele minha alegria, novo colega e já amigo querido.
Novo também na cidade, fazia pouco, Clóvis chegara de Santa Cruz do Sul com sua guitarra, pois tocava baixo ( não altura) num conjunto musical.
E baixo também era o volume do instrumento, para não desafinar a música, creio eu.
Mas a aula? Continuamos nela.
Eu sentava próximo deles. Era o máximo. Ele tentando se entrosar puxava assunto com ela. Ela muito amável dava trela.
Mas que conversa original, imaginem, só para dizer de onde veio, ele levou um período inteiro de aula.
Ela só para dizer que entendeu, mais outro período.
E foi na aula de francês que ficou evidente o trancamento da fala deles.
Entra Alda Pippi na sala com seu tayer azul hortência celeste. Espetacular. Uma varinha numa  mão e uma pasta na outra.
Nessa pasta figurinhas a serem coladas magicamente num quadro de isopor para conduzir modernamente a aula.
Artifícios precursores do  datashow moderno. Turma em silêncio pela rigidez da condução de suas aulas.
Fixados nesse mágico quadro, xícaras, copos de água, de leite e até de cerveja.
Conjugar o verbo “boire”.
Je bois de café, je bois de café au lait, jê bois de la biére, jê bois de la gazeuse.
Sua varinha apontava e todos,ao mesmo tempo, repetiam as frases.
Depois individualmente. Aí vem encrenca imaginei eu a medida que ela se aproximava de Christina e Clóvis.    
Primeiro o Clóvis, girou e baixou a cabeça, apertou a boca, girou no mesmo lugar, bateu com o pé no chão, piscou, trotou mas a frase não saiu.
Risada geral, não por deboche, mas porque qualquer coisa era motivo de riso, tudo era muito, muito engraçado. Até engasgar provocava risadas.
Senhora Alda Pippi achou que era deboche dele, vermelhou, silenciou furiosa e foi em frente.
Mas por ironia da vida, era a vez da Christina. Frase a dizer: Je bois de cóca-colá.
Tranca, torce, gira na ponta dos pés, sacode os cabelos e nada. Era impossível, a filha do Hygino, também provocando a professora?
Isso é o final dos tempos.
-Maria Christina fale, não brinque comigo, me respeite, disse ela.
E para piorar tudo o Clóvis ainda falou:
-Te-te-tenta Chri- chri-chrisssssssssstina, fa-fa-fa-fa-fala.
Aí o mundo dela desabou. Para nós, a glória. Talkshow de dupla, de improviso. Inimaginável.
Até os dois entraram no clima e riram, a Roseli, mais atrás, caiu da cadeira. O circo se completou.
Menos para a professora. Nunca em vinte anos de magistério ela foi tão humilhada. Mas o riso corria solto.
Roxa de raiva, sobrou para a Roseli também. Todos encaminhados a Darcila.
Para piorar, foram as gargalhadas.
E para piorar ainda mais, como iriam explicar os fatos?
Nada foi intencional. Era problema fonoaudiológico. Eles eram vítimas. Culpados foram os que riram.
E a explicação teve que ser intermediada pela Roseli, pois se dependesse deles demorariam umas duzentas horas.

Essa foi contada pela Chris, mas devido a truculência do texto, por gagueira, sofreu adaptações.

4 comentários:

  1. Eu tinha esquecido das figurinhas no quadro de isopor. Legal.
    Abraço
    Luis Carlos Werberich

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  2. Muito boa passagem, Chris.
    Bom lembrar do Cloclóvis.
    Mas quero ver se aprendeu bem a lição:
    Sabatina
    1 - Répondez s'il vous plaît: Où est Anatole?

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  3. Marcelo, esta é fácil. Acho que ninguém esqueceu a lição do Anatole, foram milhares de repetições.
    Abraço
    Luis Carlos Werberich

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  4. Marcelo, esta é fácil. Acho que ninguém esqueceu a lição do Anatole, foram milhares de repetições.
    Abraço
    Luis Carlos Werberich

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