quinta-feira, 3 de outubro de 2013

O THE END FINAL, RETALHOS

Agora que já não enfrento pressões do Dr. Ênio, posso divagar do jeito que eu bem entender. Vou contar dos meus gostos, desgostos, das dificuldades, dos medos e das conquistas. Tantas coisas que comigo carrego, a mexer o tempo todo com meus pensamentos e lembranças. Minha primeira lembrança vem agora com muita força me transportando para a pré infância, me fazendo lembrar da preocupação de minha família com o meu silêncio. Demorei muito a falar, mais ainda engatinhar, muito tempo até abandonar o bico e por último uma eternidade até começar andar.  Passado algum tempo, novas dificuldades, pois foi impossível conseguir o equilíbrio para acompanhar os amiguinhos a andar pela cidade de bicicleta. A solução foi contratar um auxiliar a pedalar para mim enquanto em andava no banco de trás, na carona. Muitos passeios pela cidade que no começo encantava, até encher me obrigando a exigir rotas mais ousadas de meu motorista alargando meus caminhos até São Sepé pela manhã, retornando e subindo até Julio de Castilhos, a tarde. A noite eu deixava ele descansar, pois meu coração mole não sabia ser rigoroso com meu auxiliar. Cresci e tive dificuldades de adaptação na creche. Minha mãe comentava com meus parentes que era muito puxado o ensino do maternal, por isso meu atraso em relação aos colegas. Muito tempo depois fui aprovado e conduzido, com auxilio de queridas professoras, para o ensino primário. Nessa fase, tudo ficou muito mais difícil. Atingir os elevadíssimo níveis do conteúdo era sacrifício quase intransponível. Como aprender a ler textos do tipo o "rato roeu a roupa do rei" se já naquela época eu era do PC do B, não admitia a monarquia e tinha pavor de ratos. Trauma na certa e muitas despesas com seções de terapia. Descobri mais tarde que minha psiquiatra enlouqueceu pensando ser a Princesa Isabel e se odiando por isso, pois também foi convencida por mim que a monarquia aumentava a celulite. Na matemática sempre fui um fracasso, pois nunca me convenceram que os números são infinitos. Para mim se amor, amizade, fome, saudade poderiam ter fim, como somente os números eram infinitos. Mais terapia e outra terapeuta enlouquecida. Desta vez por insistência de que as seções deveriam ter duração infinita tal qual os números. Passei a morar no consultório dela e ela no Hospital Psiquiátrico. E segui meu tortuoso caminho até chegar as portas da faculdade. Muito estudo para o Vestibular. Tempo perdido e muito dinheiro investido em cursinhos. Ano inteiro entregue ao dever, sem intervalos para descanso, apenas ler, decorar e fazer longos exercícios de matemática e física, até que, na véspera, o gabarito me foi entregue com todas as questões já resolvidas. Se o mundo aí fora resolve todos os meus problemas, porque sofrer tanto aqui dentro, em meu minúsculo cubículo de estudos. Nem preciso dizer, que acrescentei em minha vida outros longos anos de tratamento terapêutico. Alias estou pensando em tirar Medicina, Especialização Psiquiatria e poupar muito dinheiro novíssima técnica de Autotratamento Psquicossomático Envolvente e derrubar todas as tese de meu patrício Sigmund Freud. Nas dificuldades de conseguir bons trabalhos hoje em dia como engenheiro, aceito trabalhar em turno único, como Médico e ganhar uns trocados com plantões. Possuo diploma parcial, pois conheci uma velha que tinha um sobrinha que havia feito curso de primeiros socorros a distância pelo face book. Então estou dentro. E acredito que tem validade para trabalhar como Médico e ainda ajudar nosso país a economizar com importação desses profissionais. Mas mesmo tendo aptidões para a nobre profissão de Sócrates, foi na Engenharia que perdi todo o meu precioso tempo na universidade. Superado a ressaca pelo impedimento de minha matrícula na faculdade, apenas porque anularam o concurso do vestibular, muito tive de contratar bons profissionais da área tecnológica para primeiramente ingressar na faculdade e finalmente encaminhar minha formatura. Muito tive que imprimir cédulas falsas de dinheiro para pagar esses competentes engenheiros físicos e matemáticos. Mas finalmente cá estou, gozando de boa saúde, apenas um pouco debilitado pelo Alzheimer, e também trêmulo pelo Parkinson. Também apareceu recentemente um pequeno câncer de próstata, labirintite, um leve AVC e uma pneumonia simples, que felizmente não foi dupla. Mas não vão ser esses pequenos detalhes que impedirão minha presença em nosso grande reencontro. Talvez eu vá precisar de pequena ajuda, mas irei. Refiro a perda da visão, e a paralisia das pernas que me impedem de andar. O resto, vamos nos divertir, e põe a música mais alta que estou surdo.

MAS QUE BARBARIDADE!!!!!!!!

Jacob Chamis

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