Nota: entre brincadeiras e improvisações da narrativa, peço que valorizem a seriedade, o lado poético e humano que o paragrafo discorrido pelo Kimura traz, enriquecendo o texto e a convocação para que algo precisamos fazer para perpetuar nossa travessia pelo colégio, bem como, criar sementes para trabalhos em prol da escola pelas gerações futuras ávidas de exemplos e trilhas a seguir.
O CARA É BRILHANTE
Agora também somos adeptos do avesso do Rapirrauer. Somos do Sevenrauer, uma prática milenar onde seus componentes marcam encontros matinais em uma panificadora, padaria ou confeitaria qualquer, previamente escolhida, a partir das 07 hs da manhã, para um café com leite acompanhado de pão com manteiga, queijo e presunto ou mortadela, fresco ou aquecido. Não pode ser bolinho, pão de queijo, doce, empada ou qualquer outro acompanhamento que não seja o tradicional pão francês. E aí os assuntos, brincadeiras, histórias e decisões são trazidas à mesa junto com o desjejum, no inicio do novo dia, antes que cada um tenha de partir para seu destino diário, tais como trabalho, estudo ou lazer, no caso dos já descansados profissionais de pijamas. Essa prática foi criada no século passado por dois brilhantes filósofos e cientistas da vagabundagem produtiva que se chamavam Jacob Calil e Asdrubal Chamis, esse último menos conhecido na época por Kimura. Hoje seus discípulos são os nada menos brilhantes Jacob Chamis e Asdrubal Calil. As inversões dos sobrenomes se deu quando suas famílias imigraram para o Brasil, no século passado e, passando por Portugal, no momento de embarcar no vapor transatlântico, um vento levou os documentos e o gajo da alfândega disse para misturar os nome já que o vento havia feito o mesmo com os papéis. Coisas de português. Mas vamos direto ao que foi apresentado, discutido e concluído no último Sevenrauer, nesta sexta-feira, conforme abaixo está relatado:
Situada a Rua Barão do Amazonas, em Porto Alegre, capital de todos os gaúchos, cidade pertencente a região metropolitana da Grande Santa Maria, existe a conhecidíssima Padaria do Barão. Fino estabelecimento que serve desde sopa quase aquecida, no inverno, a saborosos sorvetes quase derretidos no verão, passando pela simples e maravilhosa média com pão e manteiga. Marcado o encontro para esse esplendoroso Sevenrauer, compareceram dois brilhantes rapazes, Jacob Chamis e Asdrubal Kimura Calil. Adentrando ao ambiente, já foram falando às simpáticas atendentes, Rosaura e Diárana." Bom dia gurias, tragam o de sempre". E elas quase em jogral. "Bom dia pra vocês também, nossos garotos". Nem preciso dizer que o sorriso dos "boys" adentrando foram de orelha a orelha pela calorosa e acolhedora recepção. A última vez que fomos tratados assim foi na década de 60, na casa de nossos avós, pelas cozinheiras que nos mostraram os temperos da vida. Mas voltemos ao Sevenrauer que a coisa vai tomar outro rumo e o assunto vai ficar, a partir de agora, muito mais sério e importante.
Café com leite servido a mesa acompanhado de pão com manteiga, queijo e presunto para iniciar bem outro novo dia que, como de costume, deveria ser intenso, produtivo, divertido e longo, pois o trabalho iria iniciar e o calor já era forte. Sol que já se apresentara no horizonte informando a todos que estava ali para aquecer corpos e mentes. Brilhava intensamente desde tão cedo, na rua, que tornava todas as cores mais intensas e verdadeiras trazendo consigo pessoas que circulavam com as mais variadas expressões, tais como, sono, no caso dos que ainda não haviam deixado totalmente suas camas, cansaços cambaleantes, no caso dos estavam se dirigindo para elas e em suas companhias atravessariam essa quente manhã, e os cheios de felicidade, pela contemplação da beleza da vida com um novo dia surgindo, que era o nosso caso. Muita conversa pois a energia da manhã quando se insere na gente nos transforma em leões matinais prontos para tudo, e que venha a vida venha nos provocar pois estamos prontos para ela e esperando. E aí o Asdrubal, depois de contemplada a alegria do ar respirado, a beleza do dia a encher-se de cor e a satisfação do sabor desse desjejum tão simples, saboroso e completo, lança na mesa o que considero ter sido o meu melhor momento, como ouvinte, da explanação feita por esse ser que é minha grande companhia e inspiração de fidelidade a amor fraterno desde que me conheço por gente lá nos idos da década de 50, e nesse dia de sexta-feira ele disse algo mais ou menos assim:
"Nossa vida é boa, nossos amores nos fazem vibrantes, nosso filhos estão ao nosso lado nos enchendo de felicidade, nossos amigos fiéis voltaram ao nosso convívio, nossos corpos ainda sentem a magia dos toques femininos a nos rodearem, mas nossa contribuição aos que ainda, seguindo nossos passos como alunos do Maria Rocha, estão desamparados, desassistidos e sofrendo todas as privações que as gerações subsequentes a nossa vem penando pelo abandono e falta de recursos disponibilizados para a educação, pelos governantes e pelo conjunto da sociedade, é totalmente nula. Temos que fazer alguma coisa para ajudar e também perpetuar nossa presença e passagem por tão importante estabelecimento de ensino que, esbanjando elevado padrão qualidade na época, nos colocou onde hoje muito mais precisa ser feito ou gasto para chegar onde tão facilmente conseguimos chegar. Isso também serviria de semente, exemplo e incentivo às gerações futuras de ex alunos. Devemos aproveitar essa massa crítica, mexer nossas bundas, ganhar o mundo e construir algo que nos permita morrer como pessoas em paz com suas consciências que deixaram algum legado em prol de alguém menos favorecido e que contribuíram com o que mais carente e fundamental para o sucesso de qualquer país que é a EDUCAÇÃO. Tenho comigo essa cobrança que me faz pensar sobre meu legado e minha contribuição que marque minha passagem por essa vida. Preciso de certo modo contribuir com o pouco que até hoje obtive com a ajuda dos outros retribuindo isso a alguém. Minha consciência é meu algoz . "
PUTA QUE PARIU. O cara enlouqueceu. Seu cérebro acaba de fritar. Deve estar sob efeito de alucinógenos. Vai ser internado por disfunção erétil cerebral.
Isso foi bonito, sincero e repleto de verdades objetivas que dizem ser necessário repassar pelo menso um pouco do muito que obtivemos. Foi bárbaro. É preciso.
Olhei para ele pasmado, petrificado e emocionado. Conheço ele a tantas décadas, mas parece que é tipo "Jack o Estripador", por partes e o último foi seu cérebro. Com tão pouco uso é a parte de seu corpo mais conservada. Mas isso são detalhes e o que importa é do que ele foi capaz de trazer à mesa e como nos surpreendeu. E digo " nos surpreendeu" porque as meninas que serviam, Rosaura e Diánara, choraram, espernearam, ligaram para seus familiares e entre emoções, elogios e espanto, se aproximaram, puxaram cadeiras e não mais queriam se afastar daquele que era agora o cara mais fantástico, querido, sensível, inteligente e etc dos fregueses da Padaria Barão. Inclusive o proprietário que chegou no meio da dissertativa já ingressou na Junta Comercial para trocar o nome do estabelecimento. Será "Padaria Barão Kimura". Uma espetacular passagem em nossas vidas. A sogra do padeiro que estava no toilete, chorava compulsivamente. Que momento, que instante, que brilhante discurso. Que narrativa intensa Um fato de raro brilho. E Estávamos todos em êxtase.
Mas isso se viveu e já passou, mas o que importa é a idéia, a vontade, a visão. Porque não fizemos o que ele está sugerindo? Por que não juntamos nossa alegria e vontade de continuarmos juntos e a transformamos em algo que nos marcará para sempre e mudará também o significado de ser ex-aluno. Vamos nos cotizar, reunir, discutir e tomar atitudes que melhorem a vida escolar de quem hoje faz e vive o que fazíamos antes. Vamos constituir comitês, vamos angariar fundos, vamos contribuir e vamos indagar a diretoria da escola sobre suas reais necessidades ou carências. Exemplos não faltarão, pois bibliotecas, centro de informáticas, materiais esportivos, cadeiras, classes, armários, por exemplo, nunca estão sobrando, muito pelo contrário, num momento desses onde a educação é tratada como verbas de custeio, folhas de pagamentos e manutenção de patrimônio e não como investimento prioritário, estão sempre faltando. Precisamos apenas um pouquinho de cada um para que, em algo enorme, isso tudo possa se transformar.
Foi um grande alento sentar e ouvir tamanhos anseios e ideias. Chegaremos juntos onde ninguém ainda chegou como ex-alunos dessa escola. Todos irão se juntar a nós.
E como diz o Enio, Viva Mandela.
Mas que coisa boa Chê. E que barbaridade!!!!!!!!!!