Nota: todos perderam, todos sofreram, todos sofreremos sempre e ninguém jamais poderá desistir. Por todas as perdas, personificadas em uma só, sem nunca, em nenhuma hipótese esquecer as demais, meus mais profundos sentimentos. E é um pouco assim:
Todos amigos, ninguém nunca compreendeu, a vida ficou frágil, a dor ficou forte e a morte mostrou que manda em tudo. Francisco, o Chico, não ficou muito tempo, não esperou por ninguém, não viveu tudo, foi quase nada, e se foi. Pra ti, Mana, sempre muito querida, sempre muita saudade..
E NUNCA MAIS VOLTOU,
Da viagem de ida a capital, tudo de bom. Das andanças pela cidade, tudo de bom. Das despedidas de quem por lá encontraram, tudo de bom. Da viagem de retorno a Santa Maria, nada foi bom, nada restou, tudo foi terrível, tudo virou tragédia. O carro que anda não obedece a direção de quem comanda, a curva traiçoeira surpreende escondendo a reta. O obstáculo intransponível se avizinha, se antecipa a tudo, interrompe a velocidade, detém o carro que está em movimento que carrega vidas em crescimento. Parada abrupta que interrompe a vida. Vida que viaja no interior do veículo. Veículo que rasga estradas. Estradas que percorrem caminhos, que ligam destinos, que diminuem distâncias. Nessa estrada, destinos interrompidos, distâncias infinitas, caminhos que se perdem. E um corpo imóvel, um alguém deitado, uma vida quase sem vida. No colo da maca, dependente dos outros, transportado para onde reside uma última esperança de seu retorno a vida, de sua volta que parece nem mais ser possível. E em um hospital, tudo foi feito para que não fosse preciso dar adeus para quem nunca mais poderia dizer olá. Para uma longa semana de tortura e sofrimento, a espera de algum milagre que fizesse acordar do que gostaríamos tivesse sido apenas um pesadelo. Acordar para continuar, levantar para reviver. Por favor, levanta Chico, por nós, abre teus olhos, por ti, continua conosco, por todos, continua entre nós. Toda a semana, nossa dor, nossa tristeza, seu corpo imóvel, seus olhos fechados, seu coração ainda batendo, seu sono finito, nossa esperança infinita, nossa alegria sumindo, seus movimentos cessando, sua vida indo embora, nossas vidas lhe seguindo, nossos corações disparando, nossas vidas ali parando. Porque nada fazem para trazê-lo de volta? Porque nada acontece para mantê-lo entre nós? Da vida não se tira quem muito ainda tem a fazer, não vai embora quem nada concluiu, quem apenas fará saudade. Naquele momento sua morte insistia em leva-lo, todos insistiam em não concordar, todos gritavam que não, somente sua morte não permitia, somente sua algoz desejava leva-lo. E após uma semana de angústia, passados sete dias intermináveis, tudo o que ainda restara abruptamente se transforma em aguda dor, tudo o que sobrara se modifica para alucinante desespero, tudo o que ainda resistira se mostra como um obstáculo maior que todos nós, se apresenta como dona de uma vida que parecia a nós pertencer, arranca sem piedade o que ninguém queria entregar. Passamos a sentir tanta saudade, começamos a viver enorme desespero. Enquanto todos desnorteados, sua mãe sofria, enquanto todos perplexos, sua mãe também morria. Ela, Zulmira, ainda em meu pensamento surge inconformada, sofrendo, chorando. Não chora tanto Zulmira, teu choro em meu choro explode, não sofre tanto querida Zulmira, tua dor em meu desespero retumba, tua agonia em minha saudade ecoa. Sua vida não mais retornará, sua memória nunca mais nos deixará. Se apenas lembranças restaram, tantas alegrias elas terão de nos trazer. Tanto fizemos juntos em vida, tanto foi levado por sua morte que muito do vazio em meu peito, para preencher, de muita vida e força precisarei. Seguir adiante quando, pela primeira vez, a estúpida força e poder da morte, em nossa vida se apresenta e, sem pedir licença, avisa que ela manda e que vivam como se fosse o último dia, pois quando menos por ela se esperar, mais de repente ela estupidamente poderá chegar. E eu mando em mim, e cada um manda em si e ela, senhora de tudo, manda em todos. Novas vidas vieram, novos Chico surgiram, mas igual nunca mais, pelo menos em nossos pequenos corações, naquele momento, inocentes corações. Vidas que se vão, tão precoces, mutilam quem vivo permanece, a viver o abandono dessa vida que se foi. Sua risada ainda ouço, sua voz ainda fala, seu olhar ainda diz, sua vida em nossas vidas vive, todos que se foram, tudo que ficou e tudo que vivemos, para sempre amados serão, pois de cada vida que findou em todas as vidas para sempre permanecerão, nunca nos deixarão, nunca nos deixaremos. E a saudade é tamanha que muitas outras vidas precisaremos para um dia poder cada vida esquecer. Minha dor é como a de todos, maldita dor, bendita saudade, lei da vida, sempre sentida, puramente nossa dor, unicamente nossa saudade, simplesmente........ Chico.
Jacob Chamis
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