sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

A TORTA DE LANG CONDENSADO

Nota: Ele não é como o ébrio da canção de Vicente Celestino, pois não voltou. Talvez ele esteja, em silêncio, acompanhando tudo. Nós adoraríamos se houvesse alguma manifestação dele, se ele dissesse alguma coisa, ou pelo menos um simples olá, e isso já nos bastaria. Independentemente, ele é um grande sujeito que, por onde passou, a todos sempre cativou, a todos muito encantou, e comigo não foi diferente. E agora trago um pouco disso para que todos compartilhem nossas aventuras, bem como as "doces" histórias vividas com Célia, a mãe  dele. Mas foi como guardião da meta do Modess Pétala Macia Football Club que ele conquistou grande destaque.

A TORTA DE LANG CONDENSADO 

Sua querida mãe se chama Célia, seu amado pai, Arthur. É o terceiro filho desse adorável casal e atende pelo nome de Gilberto Bandeira Lang, ou simplesmente Lang. Menino muito levado, desde seu nascimento muito trabalho deu a seus queridos pais. Morava, quando criança, na Rua Professor Braga, próximo a Casa do Estudante e junto a boate do DCE. Uma grande vantagem, como ele mesmo dizia, pois quando criarem a Lei Seca, nem precisarei ir de carro para casa e posso beber a vontade. Muito sapeca vivia correndo pelas ruas próximas e pulando muros dos pátios dos vizinhos. Todos diziam que ele de tanto saltar certamente iria atravessar fases da vida num só pulo, pois nunca sossegava. E isto realmente ocorreu, pois o 5º ano primário ele nem conheceu e já entrou direto para o ginásio no querido Colégio Maria Rocha. E foi no primeiro dia de aula, acompanhado de sua doce mãe Célia, muito recomendado aos professores, que apareceu aquele gordinho, com cara de criança,  apressado e pulando várias cadeiras para ir direto para o fundo da aula, melhor lugar para pular pela janela sem ser visto, dizia ele. Muito  me encantou aquela simpática figura. E uma grande amizade ali estava nascendo. 
Como eu era um ano mais velho, ele sempre falou que seu sonho era ter amigos grandes para se sentir mais seguro no meio dos futuros adultos que já enxergavam mais longe que ele. E por isso vivia grudado em mim. Onde eu ia ele pedia para ir junto. Não gostava nem de jogar bola, mas como eu, Fox, Kimura e o Badeco formamos um time, ele, um perna de pau, implorou para jogar, nem que fosse como gandula. Ficamos com muita pena, inclusive trouxe um bilhetinho de sua adorável mãe, explicando que caso ele não fosse aceito estava disposto a cortar os próprios pulsos. Essa ameaça assustou e, não teve jeito, colocamos ele no time. No primeiro jogo, nosso adorável goleiro, que nemguides tinha, chegou calçando uma sapatilha encarnada brilhante que roubou de sua irmã. Foi um sucesso, pois os atacantes do time adversário sempre que se aproximavam de nossa área erravam o chute ofuscados por aquele calçado espalhafatoso e ridículo que brilhava intensamente com a luz do sol. Foi nosso primeiro jogo e uma grande vitória, graças a indumentária de nosso glorioso guarda metas. No próximo jogo, que seria uma verdadeira pedreira, ele nem se fez de rogado e apareceu com um cuecão rosa pink avermelhado tipo laycra com strech e lastex, colado ao corpo, parecendo dois troncos de árvores em chamas que chegavam a cegar quem olhasse por muito tempo. Novo estrondoso sucesso e nosso time já era um dos melhores da zona com uma defesa muito pouco vazada. Mas tudo tem um fim e no próximo jogo, por pensar que já era um grande goleiro, nosso novo herói foi fardado com meias três quartos, camiseta acolchoada, calção de bolinhas até a patela e tênis salto alto para aumentar a estatura e pegar bolas dirigidas para "onde a coruja sesteia" dizia ele. É onde a coruja dorme corrigimos. Como é jogo a tarde, a coruja sesteia e pronto respondeu ele. Mas foi um fracasso, pois sem o cuecão e a sapatilha os adversários não erraram nenhum gol e perdemos de 29 a 16. Tristeza total, frustração completa, desilusão definitiva. Caímos na real e passamos a adotar tática kamikase, ou seja, para ganhar teríamos que fazer mais gols que nosso goleiro levasse. E foi um show de gols e os escores nunca mais baixaram de 15 gols. Pena que era sempre contra nós. Mas era nosso amado goleiro e ninguém aceitava que ele fosse substituído. Quando ele ficava doente e o jogo era importante levávamos a cama e ele atacava deitado, mas sem ele não jogávamos. Sem o Lang era preferível a morte, ou WO que é o termo mais adequado. Minha convivência era muito intensa também com sua querida mãe Célia. As vezes ele nem estava em casa e nós dois, eu e a Célia passávamos a tarde trocando receitas de bolo, falando sobre novos pontos de tricô ou sobre a rebeldia do Lang que a preocupava muito. Ela muito insistia para que ele seguisse bons exemplos, e na opinião dela era em mim que o Lang tinha que se espelhar. E sua felicidade era completa quando eu dizia que tudo faria para mantê-lo no bom caminho. Certa ocasião ela receberia amigas para um chá no final da tarde e estava aflita por não saber como recepciona-las e o que oferecer. Mandou me chamar para trocarmos ideias. Sugeri chá com torradas, frutas leves da estação e uma torta que eu mesmo faria. Ela pulou no meu pescoço e cheia de alegria disse: " Meu Deus esse menino vale mais que todos os meus filhos juntos e os de todas as vizinhas." O Lang morria de ciúmes de tanta adoração. Inclusive me proibiu de ver a mãe dele, o que não adiantou pois ela sempre me chamava. Mas e a torta? Vamos a ela. Organizei a lista dos ingredientes, tais como leite condensado, pão de ló redondo tipo pré torta, morangos, ovos para o merengue e disse: " Lang pega dinheiro com o teu pai Arthur e vai correndo ao supermercado comprar o que está na lista" Pra reforçar Célia gritou: "E vai num pé só, não demora, seu molóide", pois estava muito nervosa e aflita porque as amigas viriam nesse mesmo dia. O Lang saiu soltando fogo pelas ventas. E muito querido que sou, fiquei com a mãe dele ensinando a receita: " Primeiro passar leite com açúcar para amolecer a massa, rechear com a mistura do leite condensado em forma de brigadeiro mole, montar a torta com o pão de ló fatiado e cobrir com merengues enfeitados com os morangos displicentemente soltos sobre a generosa camada de clara em neve". Notei lágrimas derramadas de seus olhos a umedecer seu meigo rosto. Essa cena ficou gravada em minha retina. E o sucesso foi tão grande que a noite ela confidenciou em seu leito nupcial com o querido marido Arthur: " Meu sonho era um filho como o Jacob, pois é um lindo menino e nosso filho Beto (o Lang) tem muito que aprender com ele". Naquela tarde com as amigas que muito elogiaram a torta, ela, minha querida amiga Célia, disse a todas, cheia de felicidade e orgulho, que o autor da façanha era um colega de seu filho, um  amor de criatura, conforme seu carinhoso comentário. Segundo a Célia muitas queriam que eu fizesse tortas e fornecesse para eventos sociais. Para retribuir pela eterna gratidão, Célia sugeriu ensinar ponto arroz duplo para tricotarmos juntos nas frias tardes de inverno em Santa Maria. Adorei a ideia e até hoje sinto saudades daquelas tardes chuvosas, dos nossos saraus onde, no meio das senhoras, eu me sentia muito a vontade e ficava sabendo das novidades e fofocas mais recentes. Mas seu filho Lang, hoje um médico radiologista famoso na capital, está sumido e não comparece em nenhum evento. Muito trabalho e dedicação aos projetos por ele desenvolvidos. Conforme registro em anexo, hoje um desses projetos é criar ovelhas próprias para fornecimento de lã, carne de corte e também como garotas rurais de programa,tipo sexo casual, para melhorar a renda na entre safra, diz ele. Mas sua especialidade médica é consequência de sua paixão por música, na puberdade. "Quando crescer vou fazer algo que envolva medicina e rock pauleira juntos, ele dizia, que sonhava ser médico especializado em algo que tivesse a ver com a música. Vou ser médico radiologista para ficar ouvindo um som durante as consultas falava sempre, pois acreditava que radiologia tinha a ver com radio e reumatologia com embarcações a remo. Hoje adulto está arrependido pois compreendeu que esta especialidade  nada tem a ver com rádio, mas como é um grande apaixonado por paródias musicais mandou instalar uma enormeeletrola estereofônica nas dependências do Hospital Conceição onde ele também trabalha. A música cura todos os males e então curará os enfermos por nós, comenta com os colegas, ouvindo o último sucesso do Jerri Adrianiem vinil que ele encontrou no Brique da Redenção. Belo rapaz, adorável colega, grande amigo e filho querido, um pouco ciumento, mas muito companheiro e dependente de sua mãe, pois sempre dormia nos pés da cama do casal, por ter medo de trovoadas, chuva, raios ou uma simples garoa. Espero que ele apareça Um cara assim faz muita falta.

MAS QUE BARBARIDADE!!!!!!!!!!
  
Jacob Chamis        

Reparem na foto o olhar satisfeito para o seu rebanho.   

5 comentários:

  1. Mas que barbaridade, Jacob!
    Tu é fera nessas estórias, hein?
    Dá prá imaginar tu ensinando receita de torta?
    E fazendo tricô nas tardes frias?
    Morri de rir!
    Parabéns!
    Abraço,
    Kida

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  2. Será que mesmo depois dessa, o elemento vai permanecer desaparecido? vai ter que aparecer e o Sr. Eng. Jacob que se cuide, dessa vez, sua pele corre sério risco....Ela pulou no meu pescoço e cheia de alegria disse: " Meu Deus esse menino vale mais que todos os meus filhos juntos e os de todas as vizinhas." O Lang morria de ciúmes de tanta adoração....

    Abraço, Brutti

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  3. Não divide, Aquidaban!
    Essa história, além de fantástica (nos dois sentidos) é absolutamente real!
    Sou testemunha e confirmo ponto por ponto (arroz duplo) a narrativa.
    Baixinha que sempre fui, emprestei o tênis de salto alto por pura solidariedade.
    Além disso, eu estava presente no tal chá das amigas. A Torta de Lang Condensado estava dos deuses!
    MAS QUE BARBARIDADE!!!
    Beijo da Chris aguardando o aparecimento súbito do Lang.
    Será que o e-mail está certo???

    Será que não entra como spam???

    Mistério!!!!

    Christina Trevisan
    Cel. 11 99103.5182
    Skype: Christrevisan

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  4. acob,

    "... sugeriu ensinar ponto arroz duplo para tricotarmos juntos nas frias tardes de inverno..."

    Ponto Arroz Duplo, qua, qua, qua, qua, essa tá demais

    E para quem não sabe ou não lembra, eu e o Lang estudamos juntos para o vestibular, muitas apostilas de cursinhos nas horas de folga entre um baile de formatura e outro, que ninguém era de ferro para só estudar.

    Lang, será que fomos a todos os bailes de formatura naquele ano de 1973? ou algum foi esquecido?

    E que história é essa criador de ovelha? garotas de programa rurais? isso é sexo ecológico?

    Pô Lang, aparece, dá as caras...

    Grande abraço

    Grassi

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