quarta-feira, 2 de abril de 2014

Realizamos um encontro muito legal no Augusto, saboreamos um galetinho esperto, regado de cerveja, coca-cola e muito papo! Foi tão bom  que quase fomos colocados pra rua , saímos por último do restaurante ......contrariados..... Com a cia de vocês teria sido melhor ainda!
Aí estão as fotos!
Um abraço com carinho.....

VIAGENS SEM RUMO

NOTA: Por tanto que a vida sempre nos deu e pelo pouco que as vezes nos demos conta disso, poder estar em contado com nosso próprio interior e ver bem de frente o que tememos e do que somos capazes, certamente contribuirá para que nos tornemos pessoas melhores, menos egoístas e aptos a perceber o muito que seremos felizes pelo quanto, aos outros, desejemos nos doar. E uma solitária viagem é um bom atalho para encontrar esse bom caminho. E assim se deu comigo: 

VIAGENS SEM RUMO

Viajar sempre foi excitante. Sair sem saber onde ir, uma utopia. Chegar onde se deseja, a realização de um sonho. Em muitas férias a aventura surgia como alternativa excelente para descobrir nossa capacidade de enxergar o mundo de um modo diferente, através do mesmo olhar, surgindo frente aos olhos que nos permite tudo ver. E viajar pedindo carona foi algo emocionante antes de acontecer, solitário durante sua ocorrência e realizador depois do seu final.

E tudo começou quando, com uma mochila nas costas, numa época que para os pais filhos são protótipos cheios de curiosidades, buscando viver tudo o que ainda não foi visto e querendo enxergar tudo aquilo que ainda não foi vivido, senti certa vez vontade de ser intérprete do meu próprio filme, atuando, produzindo e dirigindo o que parecia ser uma película repleta de emoção, divertimento, ação e principalmente, como desfecho, ter um final feliz.

Pausa para reflexões (atendendo vários pedidos):

A vida é cópia fiel do provérbio, luso tailandês que diz que tudo sempre acaba bem e se não está bem é porque ainda não acabou. Se consideramos o final da vida como o fim do maior filme que cada um protagoniza, e seu desfecho com o evento da morte, refletindo e tentando compreender esse fato, devemos considerar que, por incrível que pareça, ou será um feliz final para quem, em processo de sofrimento, encontra a paz tão desejada, ou mesmo para quem tem uma vida extraordinária, a sua própria morte também proporciona um máximo momento de êxtase por transportar por todo o corpo energias escondidas e reações químicas que proporcionam um epílogo digno de uma super produção. Não estou referindo do ponto de vista de quem fica, pois quem parte deixa a saudade e a dor para quem, desesperado, passa a sentir a enorme perda. Então conclui-se que a busca do final feliz sempre presenteará todos os que nele acreditarem. E acreditem pois será a mais confortadora das verdades, o melhor do epílogos.

Final da pausa e regresso ao set de ações:

E voltando a viagem, seguimos nela. Em uma mochila coloca-se o básico e o que realmente será útil nessa empreitada. Por pouco espaço, nada supérfluo será companheira de viagem. E em busca do caminho que se irá seguir, enchendo-se de vontade, coragem e otimismo, aguardamos no melhor local aquele que nos levará para um ponto mais próximo de onde queremos chegar, como num jogo de golfe que cada tacada coloca a bola mais próxima do buraco final. E particularmente, no meu caso, quem primeiro surgiu, ali pelas bandas do Clube Minuano, onde alguém me soltou, foi um enorme e confortável caminhão de melancias onde me instalei confortavelmente em sua cabine. E por muita sorte iria a São Paulo e estava disposto a me levar junto até esse seu destino final. O meu destino um pouco mais longe, onde pudesse alcançar uma praia para, igualzinho a um filme, deitar na areia sob um coqueiro, conhecer gente, conquistar gurias bonitas e ser convidado para festas e churrascos por veranistas mais abastados. Ledo engano, pior a realidade que o sonho. E tudo já começou na viagem, pois pensando dormir num rede emprestada pelo caminhoneiro imaginei descansar confortavelmente nela, protegido sob o caminhão, enrolado nessa rede por ele cedida. Não foi assim, dormi sobre as melancias, passei frio e para piorar, choveu. Somente restou entrar para baixo da lona e agradecer aos céus por não ter sido pior. E se fosse um carregamento de pregos, ou arame farpado? Por isso aprendi que para uma boa história de aventuras a busca pela próxima emoção é o objetivo de todo o elenco de qualquer filme, no caso eu sozinho era todo o elenco desse filme imaginário. No outro dia, sol a pino batendo na lona e aquecendo, já no inicio da manhã, aquele que tinha sido uma das piores noites que o mocinho da película tinha vivido. Mas quem sabe muitas surpresas estivessem reservadas para esse novo dia, quem sabe. E arrancamos rumo ao destino final de nossa viagem, São Paulo. Dia inteiro viajando, algum divertimento com as conversas sobre a vida de meu ilustre condutor. Mas passado esse dia, apenas comendo estrada, nos aproximamos da capital paulista no inicio da noite. E até percorrer os vários quilômetros que nos separava do final da viagem, algumas horas ainda restavam passar. E por volta meia noite a terrível e desconcertante realidade: o caminhão iria para a Ceasa e eu teria de descer por ali mesmo e a partir de então me virar sozinho. Não foi fácil e custou cair a ficha de que o que podia ficar pior, piorou. Para onde ir? Que rumo tomar? O que fazer? E que saudades das melancias, pois aquilo sim que era conforto. Agora era tudo desconhecido, imprevisto e incerto. Mas não tinha jeito. Descer era a ordem e seguir para qualquer lado a opção. Agarrado as alças da mochila que, parecendo saber de meu medo, se prendiam cada vez mais forte as minhas costas, tentei seguir algum caminho. E o primeiro passo é o pior, e a confrontação com o desconhecido aterrorizante. E na calada da noite, quase madrugada a alternativa era achar um ponto de ônibus e parecer estar aguardando um para, quem sabe, descobrir uma saída que até então estava longe de surgir. E não é que surge um coletivo. O mais belo e acolhedor ônibus que eu poderia sonhar. Fiz sinal e ele parou. O som do hidráulico recolhendo a porta, abrindo caminho para meu ingresso, mais parecia um canto de sereia e o interior do veículo uma limusine feita especialmente para meu conforto. E o bom da vida é constatar que tudo pode ser tudo quando na verdade é um grande nada. De uma situação desesperadora e solitária, uma euforia e segurança em um simples transporte coletivo, que para tantos é martírio, desconforto e cansaço. Para mim aquilo era com o abraço do melhor amigo. Nada mais seria preciso naquele momento. Mas passado o instante bom, a pergunta era para onde ele vai e, para piorar, para onde eu vou? E percebo que existiam apenas três pessoas no seu interior, o motorista, o cobrador e um único passageiro. Subo pela porta traseira, tiro alguns trocados do bolso para pagar e aproximando do cobrador pergunto, como única alternativa que sobrou, onde ficava e como chegar na rodoviária. Ele deu de ombros e falou que morava há pouco em "Sumpaulo", era do Ceará e nada conhecia. Mas, prestativo, gritou ao motorista repetindo a ele minha pergunta. E por azar sua resposta foi um solene "não sei, pois esse ônibus nem vai para aquelas bandas". Então estou perdido. Então terei que vagar a noite inteira sem nenhum chance de dormir, ter segurança e um sentir um bom acolhimento em qualquer lugar que fosse. Mas minha aflição pouco durou, pois o único passageiro, erguendo sua voz falou que iria para a rodoviária, pegaria outro ônibus e que eu deveria acompanhá-lo para que chegássemos juntos ao nosso destino. No primeiro momento, medo, desconfiança e temor. Num segundo descontração, conforto e segurança, pois o sujeito era um bom gaúcho, família do Alegrete e trabalhava nos Correios, transferido de Porto Alegre para a capital paulista. Que feliz coincidência, que alento e que alegria. E fomos de mala e cuia a desbravar as ruas da cidade e a bordo de outro coletivo, olhar as luzes da cidade e parecendo grandes amigos senti novamente o prazer de estar estrelando aquele filme que iniciara lá na minha cidade no interior do Rio Grande. 

E acomodado num banco de rodoviária consegui sentir como se estivesse numa grande suíte de um luxuoso hotel e todos os noctívagos que por ali passavam pareciam bons companheiros de uma mesma aventura qualquer em busca de conforto, companhia e algum prazer que aquele local pudesse proporcionar. Noite dos deuses, vida de rei, e um filme caminhando para seu melhor epílogo por ter dado tudo certo a medida que eu estava feliz com o pouco que restou, pelo muito que me sentia e pela plenitude de estar vivendo uma grande e emocionante experiência para quem, estando tão longe de casa, nem havia ainda chegado a maioridade e viajava com autorização escrita dos pais reconhecida em cartório.

Quanto a esperança de encontrar uma guria bonita, ser convidado para festas e churrascos por veranistas mais abastados, passou a um segundo plano, pois na vida as coisas valiosas são as que agregam experiências, proporcionam algum crescimento e nos colocam frente a frente com nosso interior para, descobrindo medos e fraquezas, chegar sempre inteiro e completo a qualquer lugar, não importando o que será encontrado, mas como estaremos quando encontrar e, o mais importante, estar inteiro, totalmente contatado dentro de si. E rumando para frente, nova estrada surgiu, mas isso é outra história. MAS QUE COISA BEM DE LOUCO TCHÊ. QUE BAITA BARBARIDADE!!!!!!!

Jacob Chamis